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Popularização da internet leva empresas a buscar profissionais que dominem o manejo das mídias sociais. Salários para o setor variam entre R$ 2 mil e R$ 17 mil. E faltam qualificados.
Procura-se tuiteiro profissional. Em um mercado que exige inovação e criatividade para atrair clientes, a busca das empresas por trabalhadores que dominem essa e outras mídias sociais, como Orkut e Facebbok, aumenta a cada dia. Antes vistas como um passatempo cujo acesso deveria ser controlado, as redes hoje são sinônimo de diferencial. E os salários dos que nelas investem variam entre R$ 2 mil e R$ 17 mil. Afinal, os internautas por vocação são responsáveis por divulgar os nomes das organizações, por buscar reclamações que possam ser resolvidas virtualmente e até por veicular anúncios publicitários, atingindo milhares de pessoas a cada comentário postado. Tudo isso com um baixo custo.
A comunicação instantânea em larga escala era algo inimaginável há 20 anos. Agora uma realidade, que se atualiza velozmente, ela virou um artifício eficiente para quem deseja tornar sua marca conhecida, além de favorecer o marketing empresarial e o pessoal. A mais recente pesquisa realizada pela Deloitte indica que, de 302 empreendimentos brasileiros pesquisados, 70% já usufruem dos benefícios das redes sociais. Mas para lidar com tanta gente é preciso preparo. As instituições não querem mais profissionais de outros setores improvisados na manutenção dos sites de relacionamentos. A tendência é que invistam em funcionários ou até equipes que atuem exclusivamente na função.
Segundo o diretor da empresa de cursos on-line Digtalks, Flávio Horta, não basta ao trabalhador ter horas e horas de experiência à frente do computador de casa enviando mensagens aos colegas para conseguir uma contratação. É necessário saber planejar, criar estratégias para atingir o público-alvo e enviar mensagens sucintas e atrativas para o mundo virtual. “Por ser muito novo, o mercado está carente de profissionais qualificados. Depois que ministro os cursos direcionados para a área, sempre recebo ligações de empresários que precisam de profissionais já prontos”, destaca.
Departamento próprio
Percebendo essa tendência e a carência no setor, o diretor de vendas pela web da Beiramar Imóveis, Carlos Garcia, decidiu promover cursos de qualificação para uma equipe de 20 pessoas com o objetivo de que ela desenvolvesse um trabalho diferenciado dentro da empresa. Garcia criou um departamento específico de vendas pelas redes sociais. O investimento deu certo e, depois de quatro meses de atuação, aumentou o faturamento do setor de vendas em 40%. “Aproveitei os corretores de imóveis que já trabalhavam comigo, ministrei o curso e, hoje, cada um já consegue ter um aumento de 200% na própria remuneração deles”, enfatiza.
Além disso, os corretores conseguiram otimizar o tempo, agilizando os trâmites de vendas pela internet e apenas fechando o negócio com os clientes pessoalmente. “Abandonamos o panfleto e partimos para a rede social. Não gastamos gasolina e, a cada pessoa que divulgamos uma informação on-line, atingimos outras 10 pelo site de relacionamentos dela”, conta. Com os folhetos de papel, era preciso distribuir 100 para conseguir despertar o interesse de um só cliente. “O perfil de todos os corretores no Twitter, por exemplo, já diz a que eles vieram: para falar de imóveis. Quem nos segue e aceita nossas mensagens já está interessado no assunto”, complementa.
A caminho da diversidade
A equipe formada por Carlos Garcia se dedica exclusivamente à atuação via web. Só ela atende os clientes da internet. Até os clientes que precisam tirar dúvidas por telefone são encaminhados para outros funcionários. Isso porque é necessário desenvolver uma linguagem própria com os clientes. As redes sociais são acima de tudo locais de relacionamento nos quais são exigidas respostas rápidas e esclarecedoras.
Os especialistas nessa área tem que conhecer seu público-alvo e desenvolver políticas para atingi-lo diretamente. São eles, por exemplo, que farão uma busca pela rede para procurar reclamações sobre a empresa e tentar mudar a imagem negativa que alguns podem fazer dela por causa de qualquer serviço prestado de forma insatisfatória. “Uma vez reclamei no Twitter que não conseguia acessar o site de um banco pelo meu computador, que é da Macintosh (ou Mac, computador da Apple), devido ao novo sistema instalado por eles. Poucos dias depois, o banco me achou na rede e respondeu meu comentário, que havia sido aleatório, com uma solução. Fiquei impressionado”, diz o coordenador do MBA em Marketing e Negócios Digitais do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), Marcelo Minutti.
Segundo ele, os conhecimentos para efetuar essas ações são tão importantes que, em poucos anos, as áreas de telemarketing, recursos humanos, propaganda, marketing, jornalismo e até direito precisarão se qualificar para atender às necessidades do mercado em expansão. “Aquele profissional de recursos humanos que desenvolver um canal seguro para recrutar talentos pelas redes sociais terá um diferencial tamanho. Os juristas poderão utilizar os canais para trocar informações, montar processos, atualizar conteúdos”, prevê.
Contatos e facilidades
Para trabalhar no segmento dos sites de relacionamentos, a experiência e o conhecimento são requisitos fundamentais. Na equipe da Beiramar, por exemplo, um corretor que atua na venda direta tem um salário médio de R$ 3 mil. Já os do meio virtual chegam a ganhar de R$ 8 mil a R$ 10 mil. “Eles recebem 100% por comissão, e as vendas são muito satisfatórias”, diz Garcia. Mas é claro que o desempenho depende muito de cada um.
A publicitária Nicole Magalhães, 32 anos, está na equipe da Beiramar há um ano. Nesse período, movimentou R$ 8 milhões em comercialização de imóveis na planta. Ela credita o sucesso à união entre sua rede de contatos e as facilidades disponíveis no mundo virtual. “Otimizei todo o meu trabalho e tenho tempo de me atualizar sobre as novidades do mercado para o meu cliente”, diz.
Integrante da mesma equipe, Suzana Dalet, 45 anos, deixou o mundo empresarial para ser corretora nas mídias sociais. A possibilidade de trabalhar com agilidade, sem carregar malas ou panfletos pelas ruas, a fez apostar no setor. “Comecei trabalhando on-line e, a cada dia, surpreendo-me mais com o segmento. Troco ideias com os colegas e aprendo sempre mais. Os resultados são excelentes”, complementa.
No Boulevard Shopping, na Asa Norte, a atuação dos profissionais responsáveis pela manutenção da divulgação por essas novas mídias tem como foco as promoções. “As pessoas podem acessar o Twitter pelo celular a caminho do shopping e ver quais os descontos para o cinema, para as lojas. Vimos um aumento considerável em nossos negócios depois que adotamos a internet como propaganda”, conta a gerente de marketing do shopping, Karine Câmara.
Quando acontece alguma divulgação, os clientes interagem instantaneamente e, para atendê-los, foi preciso contratar uma pessoa que os responda em tempo real. “Optamos por um publicitário que já trabalhava com sites e sistemas da web. Ele fica todo o tempo on-line e aproveita para buscar novidades e se atualizar”, ressalta a gerente.
Palavra de especialista
De olho nos estagiários
“Normalmente, quando fazemos processos seletivos temos dificuldade de encontrar pessoal especializado na área. Uma opção que encontramos é formar esses profissionais dentro da empresa. Temos um programa de estágio no qual delimitamos o perfil adequado para o candidato, o colocamos em determinada atividade e fazemos um trabalho complementar ao da universidade. Quando ele termina o estágio está pronto para ser contratado e preencher todos pré-requisitos exigidos para os cargos da agência.”
Marcelo Otoni, Gerente de relacionamentos da Agência Talk