A importância do trabalhador e da trabalhadora

ARTIGO: HELENO ARAÚJO – CNTE

Ao longo da história da humanidade, a característica humana que mais nos distingue das outras espécies vivas no planeta é a nossa capacidade de pôr sentido no trabalho que fazemos. Desde os primórdios da nossa espécie, o trabalho que imprimimos na nossa relação com o meio ambiente se distingue do feito pelas abelhas, por exemplo, quando constroem as suas colmeias, porque ele é carregado de sentido e finalidade. Só dessa forma foi possível construirmos a noção de classe trabalhadora, aquela parcela da sociedade que, mesmo não sendo a detentora dos meios de produção, faz e produz as riquezas das sociedades.

Assim é desde os tempos mais antigos: a força e o suor de enormes contingentes humanos produziram nossas maiores riquezas ao longo da história humana. Com o advento do capitalismo, o sistema econômico que tem como primazia a acumulação da riqueza e a propriedade privada dos meios de produção, foi possível criar uma identidade para essa grande maioria das sociedades que, mesmo produzindo as riquezas, continuavam empobrecidas ao passo que, uma minoria ficava cada vez mais rica. Nesse contexto que surgem as primeiras lutas sociais e o esforço de organização política desse contingente de seres humanos que eram explorados, não raro, até a morte para produzir mais e mais riquezas para as mãos de poucos.

O surgimento da ideia de classe social, como modelo de organização das sociedades humanas, veio com Marx, pensador alemão do século XIX. Autor do Manifesto Comunista, Marx percebeu que cabia somente aos trabalhadores e trabalhadoras a capacidade de transformar o mundo em um lugar mais justo. A realidade da Revolução Industrial na Europa, contexto em que ele escreveu essa obra prima do pensamento social, era de uma crueldade sem tamanha: homens, mulheres e crianças que trabalhavam sob uma jornada de trabalho extenuante de 16 a 18 horas diárias, recebendo parcos salários que não davam conta sequer de sua sobrevivência material. Somente a organização política dessa classe poderia superar esse estágio da humanidade para um outro momento da história que fosse mais igualitário.

Vinicius de Moraes, nosso poetinha brasileiro, fez em 1959 um lindo poema chamado “Operário em construção”. Nesse poema, ele retrata o ganho de consciência do operário, que começou a perceber que construía casas lindas, mas que nelas não conseguia morar. Em uma de suas estrofes, ele dizia:

“Mas ele desconhecia esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa e a coisa faz o operário. De forma que, certo dia, à mesa, ao cortar o pão o operário foi tomado de uma súbita emoção. Ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – Garrafa, prato, facão – era ele quem os fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção. Olhou em torno: gamela, banco, enxerga, caldeirão vidro, parede, janela, casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia era ele quem o fazia. Ele, um humilde operário, um operário que sabia exercer a profissão”.

O mundo mudou quando a nossa classe social se percebeu como tal e, dessa forma, detentora de direitos e dignidade, passamos a lutar e a nos organizar. Podemos vislumbrar um mundo novo que será construído a partir do entulho que sobrará deste atual, que é marcado por tanta desigualdade. No Brasil, temos a experiência de organização e luta da classe trabalhadora ao longo do século XX. As mobilizações pelo fim da ditadura militar (1964-1985) nos deram o maior líder popular da história brasileira que, quando chegou ao poder, anos mais tarde, fez o melhor governo para a classe trabalhadora que esse país já teve.

Sabemos que o caminho de superação desse atual momento que estamos atravessando passará, mais uma vez, por ele. Nesse mês, em que rememoramos as lutas da classe trabalhadora pelo mundo afora, temos que reafirmar a importância da classe trabalhadora em qualquer projeto que almeje uma mínima sequer mudança na sociedade brasileira. Sem as trabalhadoras e trabalhadores do Brasil, não poderemos sonhar com um mundo novo, de mais justiça e igualdade social. Não faremos um Brasil mais feliz sem colocar na equação os interesses dessa grande maioria.

Sabemos que a noção de classe tem sido muito atacada nos últimos tempos, em especial porque a própria configuração de classe foi se alterando junto com as mudanças sociais que temos vivido. Mesmo assim, e apesar desse esforço deliberado do sistema em nos dividir enquanto classe, nosso papel é lembrar a todas e todos, em qualquer momento, que, se não podemos prescindir do trabalho e labuta diária para sobreviver, somos e continuaremos a ser classe trabalhadora. Sendo trabalhadores/as precarizados/as, de plataformas, temporários/as, terceirizados/as ou fazendo bicos, somos ainda classe trabalhadora! Isso ninguém nos tirará nunca! Viva a classe trabalhadora! Organizada e na luta, sempre!

 

Fonte: CNTE / Brasil de Fato Pernambuco, Heleno Araújo, 04/05/2022

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