Secretário de Segurança anuncia programa de policiamento nos colégios

Ana Maria Campos

Marcelo Tokarski

A interferência política de deputados distritais e de integrantes do governo inviabilizou a permanência do delegado aposentado da Polícia Federal (PF) Daniel Lorenz, que ficou apenas quatro meses à frente da Secretaria de Segurança Pública do DF. Também delegado da PF, Sandro Avelar foi escolhido pelo governador Agnelo Queiroz para sucedê-lo com a missão de melhorar o relacionamento entre Executivo e a bancada que representa policiais civis e militares na Câmara Legislativa. Ex-presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Avelar ganhou traquejo político para lidar com situações espinhosas. Há três semanas no cargo, ele tomou posse oficialmente na última quarta-feira e tem entre os maiores desafios coibir a escalada do crack e o crescimento dos casos de assaltos e latrocínios. A primeira medida definida pelo novo secretário é o projeto “Muita calma nas escolas”, com policiamento ostensivo na porta dos colégios. Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao Correio.

Qual é a receita para resolver o problema da segurança no DF?

Adotar políticas de Estado que levem em consideração o trabalho que as polícias Militar e Civil já vêm fazendo. Essa experiência é muito relevante. Temos que identificar os principais pontos de preocupação da sociedade brasiliense e atacá-los. A questão da droga é muito preocupante. Apesar de ser uma questão universal — não é só o nosso país que sofre com isso —, temos uma preocupação com o crack em Brasília.

O crack é o maior problema?

O crack é um problema que desencadeia vários outros. Com o consumo e o tráfico de crack, há o cometimento de outros crimes também, homicídios, latrocínios, roubos. Por isso, temos uma preocupação especial com o crack.

Existe uma estratégia para atacar o crack fora das fronteiras do DF?

Fora das fronteiras do DF é um trabalho que foge da nossa alçada.

Mas existe um convênio com o governo de Goiás…

Sim, mas para atuar na região do Entorno, em crimes específicos. Obviamente, temos a preocupação de identificar a origem da droga para fazer o combate, mas não é um combate só pertinente às forças policiais do DF. Temos o interesse de voltar a atuar na região do Entorno. Já tivemos contato com os dois governadores no sentido de prestarem ajuda na região.

O senhor pretende construir um novo presídio?

Já existe um projeto de construção da terceira penitenciária do DF. Hoje, nós temos números preocupantes. Temos 9,5 mil presos para um universo de 6,5 mil vagas. Existe um deficit de 3 mil vagas no sistema penitenciário do DF. Com isso, temos presos do regime semiaberto na mesma unidade do regime fechado. Essa não é uma situação ideal. Queremos construir um novo presídio para equalizar esses números.

Qual é a sua avaliação sobre medidas que estão sendo realizadas no Rio, onde o menor usuário de crack é internado pelo Estado e só sai dali quando estiver desintoxicado?

O problema do crack é de saúde pública. Não é só de segurança. Sabemos que temos de tomar medidas conjuntas. Preciso ver se vai funcionar esse projeto no Rio para saber se poderá ser aplicado como modelo. Não tenho ainda essa convicção. Eles estão recolhendo as crianças, mas precisam também dar escola. Tem que ser um trabalho conjugado. Envolve um projeto maior, que é válido.

Há algum projeto conjugado com outra área do governo?

Recentemente, estivemos reunidos com a secretária de Educação (Regina Vinhaes) discutindo uma questão que o governador já se demonstrou preocupado, que é a violência nas escolas. Estamos lançando o projeto “Muita calma nas escolas”, com base em policiamento comunitário. Policiais de cada região passarão a trabalhar nas escolas, controlando o movimento de entrada e saída de alunos. Sendo da comunidade, eles conhecem as crianças, os pais, familiares, o que facilita o combate contra a violência nas escolas, o tráfico.

Esse projeto das escolas já está em andamento?

Vamos lançar nos próximos dias. Estamos identificando aquelas escolas onde estatisticamente o índice de violência é maior, onde há tráfico de drogas. Em um primeiro momento, vamos centrar os esforços nessas escolas. Mas é um projeto bastante amplo. Nós temos no DF hoje 1,1 mil escolas, sendo 700 públicas. Vamos priorizar neste momento aquelas mais problemáticas, com projeto de expansão. Começaremos por 40 escolas. Nas outras, daremos atenção especial, mas com rondas.

Existe uma polêmica sobre aescala da PM. O policial trabalha 24 horas e tem três dias de folga, que em geral são utilizados para trabalhar em outra atividade.

Temos convicção da necessidade da ampliação do número de homens nas ruas. Há necessidade de termos um efetivo que seja visto pela população e que transmita a sensação de segurança. Sobre a escala, vamos estudar. Vamos querer que em breve a população tenha ampliada essa sensação de segurança nas ruas.

Concorda com esse modelo dos postos policiais? Há críticas de que eles ficam presos num posto sem ver o que acontece nas ruas…

Os policiais têm de utilizar melhor esses postos comunitários. Em alguns locais, pode ser muito válido ter apenas um policial para receber demandas, até nem sempre pertinentes à segurança pública. A pessoa fica ali como quem vai acionar as forças do Estado. Em outros locais, como no Plano Piloto, estudamos aumentar o efetivo desses postos, para que sirvam de base para rondas. Contaria com um número maior de policiais e o posto funcionaria como base. E outra coisa: para a Copa do Mundo, faremos investimentos no monitoramento. Poderemos utilizar os postos comunitários como centrais de monitoramento dos sistemas de câmeras que serão espalhadas pela cidade.

Onde as câmeras serão instaladas ?

A princípio, teremos 700 câmeras que serão espalhadas naqueles trajetos que são pertinentes à Copa do Mundo, ou seja, aeroporto, rodoviária, estádio, Setor Hoteleiro. Os trajetos serão monitorados.

Está resolvida a crise em relação à direção da Polícia Civil?

Não existe problema na Polícia Civil. A corporação está em paz, trabalhando. Os cargos de chefia estão ocupados, a polícia está rendendo, fazendo bem o seu papel. Não existe crise instalada na Polícia Civil.

Mas o fato de uma força policial ter representação tão grande no Legislativo atrapalha?

Não. Acho legítimo o interesse em participar dos debates, desde que seja respeitado o espaço do Executivo para decidir e gerir. E é isso que está acontecendo. Está havendo um debate de forma aberta, com a participação na adoção de políticas da segurança pública, o que é extremamente válido. Agora, cada um respeitando o espaço do outro.

Fonte: Correio Braziliense

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